segunda-feira, 29 de maio de 2017

Ramos-Horta recorda apoio das comunidades portuguesas em lançamento de livro de ativista

O ex-Presidente da República timorense José Ramos-Horta recordou na quinta-feira o importante apoio que as comunidades portuguesas pelo mundo deram à luta pela independência de Timor-Leste, no lançamento em Díli de um livro sobre o apoio dos luso-americanos.

"Se não fosse o papel de Portugal desde o início, o apoio da diplomacia portuguesa e das comunidades de portugueses pelo mundo a questão de Timor-Leste teria sido muito difícil ou talvez impossível de resolver", afirmou em Díli.

José Ramos-Horta falava no lançamento em Díli do livro "LAMETA - o desconhecido contributo das comunidades portuguesas para a Independência de Timor-Leste", da autoria do ativista João Crisóstomo e que conta a história do envolvimento dos portugueses nos EUA para a independência do país.

O livro foi lançado no Arquivo e Museu da Resistência Timorense (AMRT), entidade a quem Crisóstomo entregou na quinta-feira um conjunto de documentos e três grandes painéis usados em inúmeras manifestações e ações de sensibilização nos Estados Unidos durante a ocupação indonésia de Timor-Leste.


Rui Araújo, primeiro-ministro timorense, que presidiu ao evento, tinha-se encontrado com Crisóstomo em Nova Iorque numa visita em setembro do ano passado e, ao conhecer a sua história e a da LAMETA, desafiou-o a escrever um livro.

Apesar de renitente, como explicou à Lusa, Crisóstomo acabou por escrever o livro, um resumo da documentação que entregou, na quinta-feira, ao ARMT e que inclui dezenas de cartas originais da Casa Branca, Senado e Congresso norte-americanos e de várias individualidades, incluindo Nelson Mandela.

Os documentos mostram os esforços incansáveis de Crisóstomo sensibilizar os norte-americanos e outros para o drama que a população timorense vivia e os painéis - incluindo um do artista luso-americano Fernando Silva - decoraram grande parte das ações da LAMETA.

Antoninho Baptista Alves, diretor do ARMT, admitiu que nos anos que passou no mato, a combater os indonésios, "soube pouco do apoio da comunidade portuguesa nos Estados Unidos" mostrando-se sensibilizado e "eternamente grato" por tudo o que fizeram.

"Uma comunidade que lutou com todo o coração pela liberdade de um povo pobre e distante que mal conhecia. Se não fossem pessoas como vocês, espalhadas pelo mundo fora, a nossa luta seria muito mais complicada", afirmou.

Rui Araújo homenageou o papel de Crisóstomo, um antigo mordomo que "abraçou" a luta pela libertação de Timor-Leste, permanecendo incansável e contribuindo até depois da independência.

"Multiplicou-se em contactos. Dividiu-se em tarefas e atividades. E com isso foi somando à nossa causa inúmeras pessoas que elevaram a nossa voz, que soava a milhares de quilómetros de distância. A única coisa que João Crisóstomo não fez foi diminuir os seus esforços", disse.

"A apresentação deste livro e a entrega dos painéis (...) vão permitir que o espólio do AMRT fique mais rico e que perpetue a nossa história, dando a conhecer a todos o incondicional apoio dos nossos muitos amigos e irmãos espalhados pelo mundo fora e que contribuíram para apoiar a nossa luta pela independência", afirmou.

Na sua primeira visita a Timor-Leste Crisóstomo disse que o movimento de apoio luso-americano foi inspirado "pela determinação, coragem e perseverança" dos timorenses contra a ocupação indonésia.

"O que fizemos não o fizemos por bondade. A vossa coragem e determinação em suportar tantos sacrifícios, esse vosso heroísmo foi para nós a maior inspiração, uma ordem à nossa consciência", considerou.

"Se não podíamos vir lutar convosco nas montanhas e povoações de Timor-Leste o mínimo que tínhamos a fazer era ajudar no que estivesse ao nosso alcance onde vivíamos", afirmou.

Em nome da comunidade portuguesa na Austrália e recordando as vítimas da ocupação indonésia em Timor-Leste celebra-se no domingo na igreja de Motael, em Díli, uma missa de homenagem.

SAPO TL com Lusa

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